Mercado automóvel em tempo de guerra. Veículos eléctricos sobem 245% quando comparado com 2021.

O início do ano tem uma mostrado uma estabilidade que não se via no mercado desde que a COVID-19 mudou o mundo. No entanto essa estabilidade está longe de ser a normalidade. Se compararmos a falta de sazonalidade que vemos actualmente com o ano anterior, uma nova realidade torna-se muito clara.

Primeiro vamos aos números em bruto.

Valores absolutos de vendas por tipo de motorização. Fonte: ACAP

Em primeiro lugar, em Março foram vendidos 15711 veículos, o que corresponde a um aumento de 100 unidades face ao mesmo mês o ano passado. Em Março de 2022, as motorizações a gasolina mantiveram a liderança similar a de 2021, resultado de uma subida significativa quando comparado com Fevereiro, mas com menos 500 unidades vendidas este ano quando comparado com o mesmo mês de 2021. Em segundo lugar ficaram as motorizações a gasóleo, com uma ligeira descida face a Fevereiro, mas com menos 1500 unidades que em 2021.

Em terceiro lugar, encontramos as motorizações híbridas, com 1734 unidades, correspondendo ao terceiro mês consecutivo de subida de vendas, e em relação ao mesmo mês de 2021, uma subida de quase 40% ou 500 unidades.

Imediatamente a seguir, com 1274 unidades encontramos as motorizações exclusivamente eléctrica, fruto de uma subida de quase 600 unidades face a Janeiro e Fevereiro. Se comparamos com o mesmo mês do ano passado, verifica-se um aumento de 245%, quando apenas tinham sido vendidas 707 unidades.

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Finalmente, encontramos as motorizações plugin, com 1303 unidades, um valor que se tem mostrado constante desde o início do ano, e que corresponde a uma descida 9% face ao ano passado.

Quota de mercado por tipo de motorização. Fonte: ACAP

Em termos de quota de mercado verificaram-se alguns movimentos significativos. As motorizações a gasolina atingiram os 35%, correspondente ao melhor valor do ano, e o valor mais elevado desde Julho de 2021, e em linha com a média de 2021. Corresponde também a uma ligeira descida quando comparado com Março de 2021. Já em sentido oposto as motorizações a gasóleo atingiram os 28%, o que corresponde ao valor mais baixo do ano. No entanto, quando temamos encontrar um mês com uma quota de mercado tão baixa, temos uma surpresa. Este é o valor de quota de mercado das motorizações a gasóleo mais baixo desde que há registos. Se compararmos com Março de 2021, as motorizações a gasóleo perderam 9% de quota de mercado, e está 6% abaixo da média de 2021. De facto, os recentes aumentos de combustíveis, e as alterações fiscais, começam a fazer-se sentir de forma muito severa nestas motorizações, sendo que em todos os meses a quota de mercado esteve abaixo do ano passado. Ainda se virmos os detalhes dos modelos, verificamos que mais de metade das vendas de veículos a gasóleo são veículos comerciais, e apenas 2100 unidades foram ligeiros de passageiros.

Em sentido oposto temos as motorizações híbridas, com 13.5%, o que corresponde ao segundo melhor mês de sempre, só atrás do mês de Janeiro deste ano. Estas motorizações parecem estar a ocupar o mercado que anteriormente era ocupado pelas motorizações a gasóleo.

Do lado das motorizações electrificadas, os veículos exclusivamente eléctricos capturaram 11% do mercado, face aos 8% dos veículos plugin. Esta relação de forças destas motorizações acontece pela primeira vez este ano, e apenas ocorreu em 4 meses do ano de 2021.

Média a 12 meses por tipo de motorização.

Este mês estreamos a análise de mais longo prazo, através de uma média a 12 meses, de forma a se poder ver tendências que a sazonalidade do mercado esconde.

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De facto pode-se verificar uma estabilidade notável nas motorizações a gasolina. Nesta perspectiva, que ignora as variações sazonais, esta motorizações apenas perderam 2% nos últimos 14 meses.

Onde se tem visto uma movimentação muito clara do mercado é nas motorizações a gasóleo, que em 14 meses baixam dos 44% para os actuais 34%, tendo descido em todos os meses desde Janeiro de 2021.

Em sentido oposto, mas de forma muito similar encontramos as motorizações híbridas e exclusivamente eléctricas, que passaram dos 5% em Janeiro de 2021, aos 9% em Março de 2022, valores que correspondem a máximos. No entanto ao longo dos últimos 14 meses, verificaram-se comportamentos diferentes: se as motorizações híbridas sofreram uma subida acentuada entre Janeiro até Setembro de 2021, onde atingiram os 8%, esta motorização manteve-se estável desde então, até aos 9% actuais. Já as motorizações puramente eléctricas, mantiveram-se estáveis nos 5% de Janeiro a Agosto de 2021, e foi a partir daí que subiram consecutivamente até ao momento.

Média a 12 meses da quota de mercado de motorizações de combustão interna.

Uma consequência natural é a electrização do mercado, quando consideramos os veículos exclusivamente eléctricos e plugin. Os veículos de combustão interna, e híbrida, passaram dos 88% em Janeiro de 2021, até aos 81% actuais. De facto, este valor tem descido todos os meses desde Maio de 2021.

Vendas de veículos eléctricos por marca

Vendas de veículos eléctricos por marca em Março. Fonte:ACAP

As vendas de veículos exclusivamente eléctricos foram largamente afectadas pelas entregas da Tesla, que corresponderam a quase 1/4 das vendas destes veículos. É uma característica desta marca que os lotes da fábrica dos Estamos Unidos apenas ocorrem em intervalos ao longo do ano, até que a fábrica na Alemanha atinja a capacidade planeada.

Em segundo lugar temos uma novidade absoluta: a BMW, com 224 unidades. Esta marca alemã viu os novos modelos chegarem ao mercado depois de os seus clientes esperarem mais de 1 ano por estes modelos.

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Na restante tabela encontramos as marcas habituais: Kia, Peugeot, Nissan e Renault, e depois mais uma novidade: a Volvo. De notar que a Volvo apenas tem um modelo com motorização exclusivamente eléctrica, o XC40.

Vendas de veículos eléctricos por marca em 2022. Fonte:ACAP

Com o elevado nível de vendas de Março, a Tesla toma naturalmente o topo da tabela do ano, seguida pela Peugeot. Curiosamente, nos 3ºs e 4ºs lugares encontramos a BMW e a Audi (e em 7º lugar a Mercedes).

Se olharmos para o topo de vendas, encontramos as 4 principais marcas de gama alta no top 10. É notório como as marcas tradicionais gama alta (onde obviamente excluímos a Tesla) estão também a mudar a sua estratégia para esta motorização. Esta mudança é absolutamente visível na BMW onde a motorização mais vendida é a plugin, logo seguida pelos veículos exclusivamente eléctricos.