A partir daqui é sempre a descer, mas uma localidade já tem 3% da população infectada.
Já ninguém questiona que a segunda vaga chegou a Portugal. Tal como o que aconteceu na primeira vaga, A segunda chegou a Portugal com algumas semanas de atraso. Mas isso será objecto de outra publicação. Desta vez vamos apenas focar em Portugal.
Olhando apenas para os números absolutos, Portugal atingiu consecutivamente nas últimas 3 semanas valores acima dos registados em Abril.
Curiosamente, observa-se exactamente o mesmo padrão da primeira vaga: uma propagação galopante na região Norte, e uma subida mais ligeira da região de Lisboa e Vale do Tejo. Nas restantes regiões do país, as subidas são claras mas menos pronunciadas.
Mas estes valores têm de ser tratados com cuidado. Em particular na possibilidade muito real, de que em Abril, os números de casos tenham substancialmente subestimados. Efectivamente, um estudo publicado esta semana, calcula a Taxa de Fatalidade por Infecção da doença em 1.15% para uma população envelhecida como a Portuguesa. Ora, se considerarmos que a Taxa de Fatalidade ocorrida em Abril estava nos 5%, podemos concluir que nesse período apenas estávamos a detectar cerca de 20% dos infectados. Tal cálculo permite calcular o número real de novas infecções por 100 000 habitantes em 265, e que compara favoravelmente com os 183 da última semana. No entanto, isto não permite criar boas expectativas. A tendência é de subida e, face ao ritmo dessa subida, os números reais vistos em abril serão claramente atingidos nas próximas duas semanas.
Apesar da subida clara do número de casos, a taxa de fatalidades por infecção mantém-se bastante baixa, mais baixa que aquela calculada pela Universidade de Oxford para a doença. Este indicador permite sugerir duas conclusões distintas:
- A grande maioria dos infectados está a ser identificado, apesar da taxa de positivado estar a subir;
- A idade dos infectados está abaixo da idade média do país. Significa isto que o isolamento dos lares de idosos está a ter pelo menos algum sucesso.
Como se conhece à muito tempo, na COVID-19 há uma inevitabilidade: com o aumentos dos casos, vem o aumento das mortes. Se nos meses anteriores as mortes ocorridas em Lisboa e Vale do Tejo se estavam a aproximar daquelas ocorridas na Região Norte, com o aumento dos casos na Região Norte, essa aproximação terminou. Curiosamente, esse aumento de fatalidades não ocorre em todo o país, mas está novamente focado nas mesmas regiões da primeira fase: Norte, LVT e Centro, estando as demais regiões administrativas por enquanto longe de terem números significativos, embora os números no Alentejo já revelarem uma subida.
Fazendo uma análise mais fina aos números por municípios, é necessário ter em conta que neste momento a escala mudou. Se nas versões anteriores desde gráfico facilmente se conseguiam mostrar todos os municípios numa escala que subia até aos 200 casos por 100 000 habitantes, e que chegou aos 600 por altura de Reguengos, neste momento a escala vai até aos 1000. Na realidade, quer Paços de Ferreira, quer Lousada, excedem agora os valores verificados em Reguegos, e provavelmente deverão estar próximos dos valores registados em Ovar. Nestes dois municípios, a transmissão está a decorrer no seio da comunidade, e de forma descontrolada.
De qualquer forma, a prevalência dos concelhos do Norte é óbvia. Nos 15 concelhos com maior número de novos casos, 13 estão na região Norte. As excepções são o concelho de Beja, em 4.º lugar, e Lisboa em 15.º.
Curiosamente, o concelho do Porto, que desde Abril não registava números significativos, não só ultrapassou os números de Lisboa, como está agora em 6.º lugar.
Outro dado curioso é a diferença no perfil das subidas. Nos municípios do Norte, a subida foi repentina e nas últimas duas semanas, bem como no caso de Beja. No entanto, nos municípios de Lisboa, tal já não se verifica. Efectivamente, se olharmos para os municípios de Lisboa, Sintra, Amadora, Almada e Odivelas, a subida das últimas semanas, embora exista, é bastante mais contida e varia entre a subida de cerca 50% nas últimas duas semanas em Lisboa, aos cerca de 30% em Odivelas.
De facto, uma das coisas que não mudaram, é o facto de que a taxa de propagação em LVT se mantém dentro de variações limitadas. Se durante o verão este efeito era indesejável, neste momento é extremamente útil.
A novidade desta semana, é o indicador de total de casos positivos per capita, o que permite aferir o nível de imunidade de grupo.
Aqui são visíveis dois padrões distintos:
- A subida galopante em Paços de Ferreira e Lousada que faz com que no espaço de 2 semana cheguem ao topo desta tabela, mas pelo simples facto de que em Passos de Ferreira, mais de 3% da população, ou um em cada 30, já ter testado positivo para a Covid-19.
- As municípios de LVT mostram taxas de infecções totais também elevadas, mas mais próximas dos 1.5%. Tal era no entanto, previsível e corresponde ao resultado de meses consecutivos onde estes municípios não conseguiram controlar a propagação.
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