Na 3ª vaga a COVID-19 mata em 7 dias. As consequências da estirpe inglesa para o melhor e para o pior.

A terceira vaga tem sido uma montanha russa. Depois de uma subida galopante dos casos que começou no dia 30 de Dezembro, a descida também sido vertiginosa, para bem de todos. No entanto os primeiros resultados da análise desta 3ª vaga começam a ser preocupantes, e isto pode estar relacionado com o facto de que grande parte destes casos provêem da estirpe inglesa, também conhecida por B.1.1.7.

Uma das características desta 3ª vaga tem sido a sua imprevisibilidade. Sim, todos vimos uma extensa lista de peritos e matemáticos a dizerem que não se deveria ter aberto o Natal, mas a verdade é que a 28 de Dezembro já estava tudo confinado. E no entanto, nada parou a subida até ao fecho completo das escolas. Escolas essas, onde nunca se demonstrou serem foco de contágio, mas pelo contrário, nos vários estudos internacionais 1 2 3, as escolas são dos locais mais seguros da sociedade.

Portanto, se a 3ª vaga demonstrou alguma coisa, é como ainda não percebemos como a COVID-19 se comporta na sociedade. A nova estirpe só vem complicar o pouco que conhecemos.

Um dos dados iniciais que foram protegidos pelo Imperial College, com base na estirpe original em Wuhan, e nos casos da mesma cidade chinesa, era que o tempo médio entre a infecção e a fatalidade rondava os 16 dias 4. Era também conhecido que esta média escondia uma realidade. Uma parte das fatalidades ocorria muito poucos dias após a infecção, ao passo que a outra parte ocorria passadas várias semanas. Se estes dados não corresponderem à realidade, todos os modelos usados falharão, como falharam.

Esta terceira vaga vem clarificar esta questão. Olhando para o gráfico das novas infecções e fatalidades, sobressai uma imagem muito clara.

Novas infecções e Fatalidades.
Fonte: OurWorldInData/DGS
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Ao contrário da segunda vaga, onde as curvas das infecções e das fatalidades não se alinhavam, na 3ª vaga, este alinhamento é muito claro, e permite extrair conclusões. Se medirmos a distância, em dias, entre os picos da curva das infecções com o pico da curva das fatalidades, pode-se estimar o tempo médio entre detecção da infecção e a fatalidade. Se uma medição manual apontava este valor para os 8 dias, uma análise mais algébrica através da maximização da correlação, aponta para um valor máximo nos 7 dias após a infecção. Um valor muito mais curto que os dados anteriores.

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Por outro lado, e como se viu nas primeiras duas vagas, as mortes continuam a ocorrer muito depois do pico das infecções. Nesta 3ª vaga, não é esse o caso. A descida das fatalidades está a acontecer de forma simétrica à subida.

Também do lado das infeções o mesmo se verifica. A descida do número das infecções está a ocorrer de forma simétrica à subida.

Em ambos os casos, o resultado é que os modelos matemáticos que foram construídos para as primeiras vagas, não conseguem fazer qualquer previsão útil para esta vaga. De facto, corre-se o risco (bom risco, leia-se) de serem atingidas as 1000 infecções diárias já em alguns dias da próxima semana. Este é um cenário muito abaixo das previsões dos modelos, que apontavam para Abril/Maio, e um total de 20000 mortos em Março 5.

Novas infecções e Fatalidades.
Fonte: OurWorldInData/DGS
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Olhando para o futuro mais próximo, a data do desconfinamento dependerá não só do número de infecções, mas do número de internados nos cuidados intensivos. E esses sim, ainda demonstram uma descida mais lenta e progressiva que os infectados e os restantes internamentos. No entanto, não havendo novos casos, a sua descida será inexorável a partir de dia 24 de Fevereiro, correspondendo ao intervalo médio após o pico das infeções. A verificarem-se estes números poderá começar-se a pensar num ligeiro desconfinamento antes de 15 de Março.

  1. https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.10.20210328v1[]
  2. https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.25.20140178v1[]
  3. https://pediatrics.aappublications.org/content/pediatrics/early/2021/01/06/peds.2020-048090.full.pdf[]
  4. https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/mrc-gida/2020-03-11-COVID19-Report-8.pdf[]
  5. https://www.dn.pt/sociedade/irao-morrer-dez-mil-portugueses-ate-meados-de-marco-muito-mais-do-que-ate-agora-13251444.html[]