Aviões, Mentiras e a TAP – Como David Neeleman Poupa 3500 Milhões à custa da TAP

Muito tem sido escrito sobre a TAP nos últimos anos, tipicamente em questões puramente laterais e frívolas, quando se chega aos temas realmente importantes, é o maior silêncio e desinformação na comunicação social.

A título de exemplo, “CDS acusa Governo de ter omitido eventual entrada de capital chinês na TAP”. Ora, esta notícia, é de 14 de Fevereiro, e é estranho que na notícia que relata a estranheza sobre o capital chinês, ninguém foi capaz de comentar o facto de que tal aconteceu na realidade a 24 de Novembro, quando a HNA comprou 24% da Azul. Na realidade, a entrada de capital chinês na TAP foi precisamente nessa data, e anterior à renegociação da venda da TAP…

Sobre a venda em si, na sua versão de 12 de Novembro, ainda nada foi tornado público.

A venda da TAP foi uma das ações mais polémicas do anterior governo, não pelo objeto ou método da venda, mas pelo momento em que foi efetuada. No entanto, o objeto da venda, que hoje ainda não é pública (apesar das críticas feitas pelo PSD sobre a falta de informação sobre as alterações efetuadas pelo governo atual…..), sobressaem alguns detalhes que vêem aparecendo na comunicação social:

  • Investimento inicial de 150 Milhões de Euros;
  • 119 Milhões de Euros até Julho de 2016;
  • 17 Milhões por trimestre durante 1 ano (num total de 68 Milhões de Euros, totalizando  355 Milhões de Euros.

 

Ora, no desconhecimento, vêem surgindo pequenos dados que demonstram como privatizações feitas fora de bolsa resultam em negócios extremamente danosos para o estado. Indo por partes:

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  • O investimento inicial de 150 milhões, transformou-se em uma emissão obrigacionista de 120 milhões de euros, subscrita na totalidade pela Azul (é aqui onde entra o capital chinês…). Ora isto não é a tal injeção de capital que foi prometida no mento da venda da TAP.
  • Dos restantes 149 milhões de euros não há notícias, a não ser que venha em géneros, como se pode ver a seguir….

A Azul está em grandes dificuldades financeiras, de tal forma que convida os colaboradores que tirem uma licença sem vencimento para explorar novas oportunidades. Tinha também uma quantidade muito significativa de aviões novos e outros ainda por receber, mas parados, associados a contratos de leasing dispendiosos. Ora é curioso ver que a primeira entrega de novos aviões, não tenha sido na frota de longo curso da TAP, o que tem sido o ganha-pão da companhia, mas de aviões de muito curto curso, Embraer-190 e ATR-72, para a nova TAP Express. Ainda mais curioso é o facto de que todos (!!)  os 15 (1) aviões que a TAP Express irá receber venham precisamente avida AZUL, sendo que este negócio está avaliado em cerca de 500 milhões de euros.

Curiosamente, dos anunciados 55 novos aviões da TAP, 15 correspondem aos referidos acima, e os restantes 40 sejam relativos a uma encomenda que a AZUL fez em 2014 junto da Airbus, um negócio avaliado em mais de 3000 milhões de euros.

Ora, trata-se do destapar de um casamento de conveniência através uma uma lavagem dos monumentais prejuízos futuros da AZUL. Os parcos 10 milhões de euros pagos pela TAP são uma gota no oceano nos mais de 3500 milhões de euros relativos aos aviões que a AZUL tinha parados ou já encomendados. É na verdade um negócio brilhante para David Neeleman: gasta 10 milhões de euros e em troca poupa 3500 milhões de euros em aviões que não têm uso e ainda recebe os juros da aplicação obrigacionista de risco reduzido na TAP.

É este então mais um exemplo de como todas as ações de privatização realizadas pelo estado português sem recurso a diluição das empresas em, bolsa foram brutalmente danosas para o contribuinte, com ganhos gigantescos para os privados. Voltamos à venha máxima: privatizem-se os lucros, nacionalizem-se os prejuízos.

 

(1) Para que não hajam dúvidas, podem consultar aqui a futura frota da TAP Express. Onde se podem confirmar a proveniência das aeronaves.

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