Uma pandemia que não reage ao confinamento nem ao desconfinamento: a zona de Lisboa e Vale do Tejo
Na semana onde Fernando Medina veio criticar a resposta das autoridades de saúde no combate à Covid-19, os números da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) teimam em não mudar. Isto é em si um resultado estranho, e singular em todo o mundo, já que a progressão de uma pandemia só tem dois caminhos habituais: crescimento exponencial ou redução constante.
Olhando para o gráfico que retrata o número de infecções por 100 000 habitantes por região mostra o problema de uma forma muito gráfica. No início da pandemia, o crescimento na zona Norte e Centro foi exponencial. Já os surtos recentes nas regiões do Algarve e Alentejo seguem os padrões descritos. No entanto desde o início de Abril que o crescimento dos casos na região de LVT é linear e constante. Veio o confinamento e o desconfinamento, e nada mudou.
A taxa de crescimento manteve-se constante. É esta a origem do desconforto dos vários eleitos com os técnicos das autoridades de saúde: qual é a cadeia de transmissão que está a ocorrer em LVT, que não reage ao confinamento nem ao desconfinamento.
A outra característica única da pandemia na região de LVT é que a taxa de fatalidades é muito inferior ao resto do país. Efectivamente, se considerar-mos que LVT tem actualmente mais casos que a região Norte, podemos verificar que tem praticamente metade das mortes. Isto sugere que a população que está envolvida na progressão da Covid-19 em LVT está maioritariamente em idade activa, e fora dos sistemas de saúde (visto que a propagação no sistema de saúde teria como resultado a propagação em lares e outras unidades de cuidados continuados).
Uma das possíveis explicações é estar a acontecer algo que está a acontecer noutros países, como no Reino Unido, onde a pandemia simplesmente se movimenta entre as várias regiões, sem conseguir apresentar crescimentos significativos em nenhuma delas. Neste caso, o número de constante de notas infecções ocorre, não porque estas ocorrem num foco único, mas porque os focos vão aparecendo e sendo controlados, sem alguma vez se conseguir conter a propagação. É isto o que se tem verificado no último mês, onde cada um dos municípios da região de LVT representa um foco de transmissão, para depois regredir nas semanas seguintes, mas onde os novos casos nesses municípios compensa os municípios onde a propagação foi controlada.
A excepção é precisamente o município de Lisboa, e a razão principal das queixas de Fernando Medina. O município de Lisboa apresenta um fluxo contínuo e constante de novas infecções, com variações mínimas nos últimos 2 meses. É aqui que reside o problema de Fernando Medina. Nem o confinamento, desconfinamento, alterações nos transportes, nada fez baixar o nível de transmissão em Lisboa. Para tornar ainda mais inexplicável, apenas a freguesia de Santa Clara apresenta valores díspares das restantes, e que não pode explicar estes resultados.
Só quando se conseguir perceber qual é a cadeia de transmissão em Lisboa se poderá controlar a propagação.
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